De acordo com Leonardo Siade Manzan, nas últimas décadas, o universo jurídico tem sido tradicionalmente conservador, com uma clara separação entre o domínio do direito e o mundo da tecnologia. No entanto, a ascensão da transformação digital e a crescente complexidade das demandas regulatórias têm impulsionado mudanças profundas na atuação dos profissionais jurídicos.
Escritórios de advocacia e departamentos jurídicos corporativos estão lidando com volumes crescentes de dados, exigindo análises mais ágeis e decisões baseadas em evidências. Essa nova realidade impulsiona o surgimento de um novo perfil híbrido: o advogado que também é analista de dados. Este profissional precisa entender tanto os fundamentos do direito quanto as ferramentas e metodologias de análise de dados, traduzindo informações brutas em insights legais estratégicos.
Qual é o papel da análise de dados no contexto jurídico?
A análise de dados tem um impacto crescente nas operações jurídicas. Ferramentas de inteligência artificial e aprendizado de máquina já são utilizadas para revisar contratos, prever decisões judiciais e identificar riscos de compliance. Para além da automação, a análise de dados permite que o advogado tome decisões com base em padrões históricos e tendências quantitativas, o que representa uma mudança radical na forma de atuação tradicional.
A formação desse novo perfil exige uma jornada multidisciplinar, destaca Leonardo Siade Manzan. Advogados interessados em migrar para esse caminho precisam desenvolver competências em ciência de dados, estatística, programação (em linguagens como Python ou R), além de se familiarizarem com ferramentas como Power BI, Tableau ou SQL. Ao mesmo tempo, os analistas de dados que desejam atuar no setor jurídico precisam adquirir uma base sólida em legislação, processos judiciais e lógica jurídica.
Quais são os principais desafios para se tornar um profissional híbrido?
Apesar do alto potencial, tornar-se um advogado-analista de dados não é uma tarefa simples, pontua Leonardo Siade Manzan. Os principais obstáculos incluem a falta de uma cultura de dados dentro de muitos escritórios e departamentos jurídicos, resistência à mudança por parte de profissionais mais tradicionais, e a dificuldade de conciliar duas áreas com lógicas bastante distintas.

O direito é normativo, interpretativo e baseado em precedentes; já a ciência de dados é empírica, experimental e orientada por hipóteses. Conciliar essas abordagens exige uma mente flexível e capacidade de tradução entre linguagens técnicas e jurídicas. Além disso, há barreiras tecnológicas, como a limitação de acesso a bases de dados de qualidade e a necessidade de garantir a privacidade e segurança das informações tratadas.
Quais áreas do Direito mais se beneficiam da análise de dados?
Embora a análise de dados possa beneficiar praticamente qualquer ramo do Direito, algumas áreas têm se destacado mais rapidamente na adoção dessas tecnologias. Leonardo Siade Manzan explica que o Direito Tributário, por exemplo, lida com grandes volumes de dados financeiros e regulatórios, sendo terreno fértil para análises preditivas e auditorias automatizadas.
O Direito do Trabalho e o Direito do Consumidor também se beneficiam, principalmente em contextos de contencioso de massa, onde padrões podem ser identificados para acelerar decisões e acordos. Já no campo do compliance e da governança corporativa, a análise de dados é essencial para a detecção de fraudes e a avaliação de riscos regulatórios. O uso de dados nesses contextos não substitui o julgamento jurídico, mas amplia significativamente a capacidade de atuação estratégica do advogado.
Por fim, Leonardo Siade Manzan menciona que o mercado jurídico já começa a valorizar, e até demandar, profissionais com esse perfil híbrido. Escritórios de advocacia de grande porte estão criando times internos de ciência de dados ou contratando consultorias especializadas. A remuneração também acompanha essa valorização, com salários acima da média para aqueles que conseguem unir os dois mundos.
Autor: Vondern Samsyre